Prof. do departamento de História da UFPE
Quando
da vitória do governo petista, em 2002, e do primeiro reitor identificado com
os anseios da comunidade um universitária na UFPE, antevimos uma mudança
substancial nas relações de poder entre a administração, os docentes , os
servidores técnicos-administrativos e os
alunos na nossa instituição.
Tínhamos razão
para esperar uma reitoria que representasse legitimamente o pensamento da
comunidade acadêmica, autorizada pelo voto da maioria. Afinal, os dirigentes
universitários até então encarnavam a vontade e os ditames do MEC, do Governo Federal,
além é claro das injunções político-partidárias que sempre influíram na
nomeação do escolhido para o cargo.
Qual
não foi a nossa surpresa em constatar que os “novos reitores” deviam obediência,
não aos seus representados, mas sim ao Governo Federal, numa completa inversão
de valores. Era o caso típico da chamada “servidão voluntária”, de que fala
Rousseau, os novos dirigentes, eleitos democraticamente com os votos da
comunidade universitária, passavam rapidamente a representar na UFPE os
interesses e planos da burocracia ministerial de Lula. Poderíamos indagar das
causas dessa estranha metamorfose: a explicação foi se revelando, ao fim de
cada gestão. O “bom mocismo” dos reitores lhes garantia um cargo em Brasília.
Tem sido assim, invariavelmente, com os ex-reitores da UFPE.
Ocorreu
com os nossos reitores, no governo petista, o que se passou com os
movimentos sociais: foram cooptados,
viraram “chapa branca”, passaram a ser meros gerentes da vontade política do
governo federal, perante a comum idade que
os elegeu. Quando o governo Lula propôs o REUNI, como condição para
aumentar o investimento nas IES federais, aceitaram imediatamente, mesmo com o
protesto dos docentes, de que tal oferta comprometia a autonomia didático-científica das
universidades. Mas os novos dirigentes
receberam essa modalidade de “neo-taylorismo“ na educação, de braços
abertos, reintroduzindo a divisão entre professores “dadores de aula” e
“professores pesquisadores”. A universidade
virava um colégio de 3º grau.
Mas grave foi a fragilização da autonomia universitária, permitida pelos
reitores “bons moços” perante os Procuradores Federais que, não só passaram a
fazer tábula rasa dos instrumentos de controle e fiscalização da própria
universidade federal, mas avançaram na investigação dos planos de curso, os projetos de pesquisa, as licenças
sabáticas, as palestras, seminários etc. como se fosse a sua competência
admistrativa, fazer tal coisa. E tudo com a cumplicidade, a servidão silenciosa
e covarde das instituições de ensino e pesquisa universitários. Se estivéssemos
num Estado de Exceção, mesmo assim se levantariam vozes corajosas contra tão
abuso. Mas num Estado de Direito democrático, o que dizer da servidão das universidades
diante do Poder?
Agora, vem o MEC empurrar de
“goela abaixo” na comunidade universitária um projeto de lei que, simplesmente,
retira das universidades o que resta de autonomia, no que diz respeito aos
critérios que regem a ascensão funcional da categoria, sob a alegação de que
vai dar (?) um aumento de até 45% aos professores! Acho que o governo petista
nos trata como os telespectadores da Globo, idiotas, que “emprenham pelos
ouvidos” tudo que ouvem ou veem. Paciência. É necessário dar um basta nessas
ofensas sucessivas à dignidade da carreira universitária, para que os
professores e servidores não acabem passando por meros clientes e serviçais,
não do público ou da nação, mas dos governos de turno – seja de que lado ou cor
for.
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