Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco
O apagão ocorrido foi surpreendente, porque ocorreu em um sistema de transmissão que achávamos ser um dos mais reforçados do mundo, que é o que parte de Itaipu e se integra ao sistema elétrico interligado. São cinco grandes “linhões” transportando energia, em três deles corrente elétrica alternada e nos outros dois, corrente contínua. Com os problemas ocorridos em três das cinco linhas, Itaipu paralisou completamente a geração de energia, o que é a primeira vez que acontece desde que a hidrelétrica foi inaugurada, em 1984.
São questionáveis para vários especialistas, as explicações do governo, apontando complicações meteorológicas, como causa única do apagão que afetou mais de 70 milhões de brasileiros naquela noite de terça-feira.
Alguns técnicos afirmam que a provável causa do apagão diz respeito a um problema de gestão do sistema elétrico interligado, pois o sistema não conseguiu praticar o "isolamento" ou “ilhamento”, impedindo o efeito dominó de uma eventual sobrecarga, curto circuito ou mau funcionamento operacional, aliado a uma provável questão meteorológica. O evento ocorrido revelou que falta investimento na gestão e coordenação do sistema elétrico nacional, tendo faltado aptidão para a tomada de providências exigidas.
Outros especialistas relacionam a falta de manutenção como uma provável causa do apagão, pois o sistema é projetado para permanecer estável mesmo ocorrendo perturbações climáticas. Afirmam ainda que apenas tufões, furacões, queda de avião, caminhão derrubando a torre de transmissão ou abalos extremamente graves podem levar a interrupção do fornecimento de energia elétrica.
A ainda aqueles que afirmam que a falta de energia pode ter sido resultado da falta de capacidade dos cabos de transmissão secundários em compensarem a interrupção do fluxo na principal via de escoamento de energia da Usina de Itaipu para o resto do país.
E, finalmente, os que vinculam o problema ocorrido ao modelo adotado pelo governo federal para o setor elétrico que teve início nos anos 90, principalmente nos governos Collor e FHC, com reformas realizadas em 2003 e 2004; e em grande parte perdura até os dias de hoje, impondo competição num setor em que isto não é viável. Mistura os setores estatal e privado, favorecendo assim, os interesses individuais das empresas envolvidas no setor em detrimento do sistema elétrico como um todo. Continua ainda prevalecendo uma visão liberal-mercantilista, que concebe o setor energético como um campo de relações de troca de mercadorias.
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