segunda-feira, 9 de abril de 2012

Haverá greve nas universidades federais em 2012?

Artigo publicado no Diario de Pernambuco dia 07 de abril de 2012

JOSÉ LUIS SIMÕES DOUTOR EM EDUCAÇÃO, VICE-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS DOCENTES DA UFPE


 Do ponto de vista dos professores, ainda não é possível responder prontamente esta questão. A última greve geral nas IFES (Instituições Federais de Ensino Superior) foi em 2005 e teve duração de aproximadamente três meses. O segundo semestre letivo de 2005 foi comprometido, formandos daquele período tiveram que adiar colação de grau, e especialmente o acesso ao mercado de trabalho em suas respectivas profissões. 

Recapitulando minha experiência pessoal, iniciei as atividades docentes nesse período turbulento, em novembro de 2005, na Universidade Federal de Pernambuco. Com as aulas paralisadas e os docentes de braços cruzados, restou-me, na condição de neófito, observar os debates nas assembleias de docentes, contudo, sem entender claramente o que estava em pauta e que caminho o movimento grevista iria tomar. 

Em suma, o calendário acadêmico reiniciou com atraso em 2006 e só voltaria a normalizar em 2008. Em março de 2008 o governo federal assinou acordo com uma parte do movimento docente (a categoria se organiza em duas alas: Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior- ANDES - e PROIFES - Fórum dos Professores das IFES). Esse acordo garantiu reposição inflacionária e um tímido ganho real no contracheque para os anos de 2008, 2009 e 2010. 


Já na campanha salarial de 2011, o governo federal selou acordo com o movimento docente no mês de agosto (desta vez, com aval das duas alas do movimento), garantindo reajuste de 4% a partir de março de 2012, incorporação de uma gratificação ao vencimento básico e compromisso de reestruturar as carreiras do magistério superior e ensino básico, técnico e tecnológico. 


Diferentemente do acordo firmado em 2008, para cumprir o acordo de 2011 o governo não encaminhou a implementação do reajuste de 4% através de Medida Provisória, mas, enviou um Projeto de Lei ao Congresso Nacional e, portanto, numa perspectiva otimista, o reajuste e a incorporação da gratificação aparecerão nos contracheques dos docentes somente a partir de julho de 2012. Além disso, ainda não houve avanços significativos nas reuniões entre governo federal, ANDES e PROIFES na direção de acordar uma proposta de reestruturação das carreiras dos docentes das IFES.


Em suma, o cenário atual é de incerteza e alerta. Se educação realmente for prioridade para o governo federal, o avanço nas negociações acontecerá. Caso contrário, a categoria docente poderá se insurgir, afinal, em 2011 tivemos 6,7% de inflação e 0% de reajuste salarial.

Aguardamos com ansiedade a reestruturação da carreira dos docentes das IFES e a implementação do reajuste, porque não queremos marchar na direção da greve, pois isso prejudica os alunos, as pesquisas, o calendário acadêmico da universidade e toda sociedade. Todavia, entendemos que greve sempre foi e sempre será um instrumento de luta e defesa dos trabalhadores, portanto, não ficaremos inertes, assistindo passivamente nossos salários em processo de corrosão e nossa categoria sendo desprestigiada pelo governo federal. 

Enquanto categoria profissional consciente e politizada, opinamos que está mais do que na hora do governo colocar o discurso em prática, valorizar e reconhecer a importância social dos professores, afinal, como dizia o sociólogo Pierre Bourdieu (1930-2002), o reconhecimento social de qualquer profissional é, sobretudo, mensurado pelo valor registrado no contracheque.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O FANTASMA DA QUANTOFRENIA NAS PÓS-GRADUAÇÕES

O FANTASMA DA QUANTOFRENIA[1] NAS PÓS-GRADUAÇÕES: PERVERSÕES SÁDICAS[2] COMO PRÁTICA POLÍTICO-PEDAGÓGICA[3].

O tema da “avaliação” e da “qualidade” está em moda atualmente – quase que como sinônimos. Estruturas e políticas perversas, sádicas, estão sendo implantadas paulatinamente em nossas vidas no cotidiano das instituições. E como tal, elas não estão sendo refletidas. As Pós-Graduações, inclusive a nossa, vêm defendendo uma concepção perversa, de punição e de retaliação, como fazer político-pedagógico, mas não reconhecem essa prática. Não se vê nessa prática. Isso não é novo na história. Quantos ex-escravos no Brasil Colônia se aliaram às instituições da Casa-Grande e ao sistema repressivo policial e passaram a combater (“dedurar” e participar de práticas violentas) os seus irmãos?[4] Se tomarmos, também, o nazismo e os torturadores a serviço dos governos militares/civis e seus apoiadores no Brasil, nenhum destes reconhece que fez o mal. Dependendo do grau de compromisso com essas instituições mortíferas, uns, plenamente, desconhecem seu envolvimento; outros, que as defendem abertamente, argumentam que lutavam contra um mal maior e, portanto, as violências e os assassinatos foram necessários.

Docentes, não se sintam agredidos por tal comparação. Óbvio que vocês não são nem torturadores e nem nazistas, e nem capatazes – nem conceitualmente, nem historicamente e nem politicamente. Contudo, temos que aceitar: a lógica estruturante é a mesma. Isso é o que importa para a análise e a auto-análise. Por isso, Félix Guatarri, diz-nos que “Hitler ainda está vivo”: “nos sonhos, nos delírios, nos filmes, nos comportamentos torturadores dos policiais...”.[5]

Assim, o mesmo ocorre com essa política de “produtividade”, de “qualidade”, das instituições. Aplicam as políticas, mas não assumem as suas consequências. Bresser Pereira, ideólogo e coordenador das políticas neoliberais no Brasil, agora, escreve contra as políticas neoliberais com o mesmo afã com que a defendia. Cínico, escroto (Titãs, belo rock transgressor), cara de pau? Um pouco disso tudo e, talvez, algo mais.

O professor português, Doutor Almerindo J. Afonso, da Universidade do Minho, que esteve aqui recentemente, proferindo uma palestra, questionou, indagou: “pra que avaliar”? Disse ele: “os docentes nem mais se indagam hoje sobre isso, apenas discutem qual a melhor avaliação” (citação de sentido e não literal). Imediatamente todos olharam pra mim porque defendi recentemente o FIM da avaliação, da nota e da chamada – infelizmente não dá para teoricamente desenvolver a tese do “fim” da avaliação aqui. No momento contemporâneo não se pode discutir o “FIM” nesse período fantasmático, pois está “proibido” blasfemar, romper com o sagrado (resultado e produtividade).

Na verdade, entendo a avaliação como uma instituição imaginária social (um fantasma, no sentido castoriadiano) que está nos assombrando, fazendo parte de nossas vidas, como se existisse a priori e não fosse nossa criação imaginária[6] – evidentemente, inventada e fortalecida pelas grandes organizações midiáticas, pelos Estados e pelas empresas. Delírios, delírios, delírios são a avaliação.

Ora, como delírio, quem criticar a avaliação será percebido, certamente, como um “inimigo”, uma ameaça e um “incompetente”, um “incapaz”. Na verdade, as pessoas estão incorporando sua “incompetência” e estão incapazes de reagir aos fantasmas: frequência, pontos, hierarquizações de veículos, tempo controlado (mas são de corpos biológicos, têm uma narrativa cronológica, psíquica, cultural e política), exposição pública como incompetente.

Se pensarmos direito, como estamos dominados pelo “fantasma”, nós não “publicamos”, somos “publicados”. Completamente dominados pela imaginação do chicote da “avaliação” – lembro-me de Edilson Fernandes -, não mantemos uma relação com o tempo, mas somos “temporalizados” pelos prazos; não produzimos saberes, somos dominados pelas palavras que precisam ser ditas, a qualquer custo, mesmo que não tenhamos grande coisa a dizer nesse momento, mas se exige que se diga; não mantemos um diálogo com os autores, mas os cuspimos freneticamente (Ah! Que saudade de Augustos dos Anjos!) para sermos reconhecidos em alguma perspectiva teórica; não temos objetos de pesquisa, mas somos objetificados pela ditadura das exigências “acadêmicas” (!?!?).

Essa ditadura do resultado imbeciliza-nos e idiotiza-nos cotidianamente. Como o importante é fazermos “pontos”, pra que debate? Pra que discussão? Pra que polêmica? Pra que projeto político-pedagógico? No máximo, um defensor ou alguém que já foi fabricado para pensar assim atua na organização de um seminário, chamando os afiliados aos Congressos, nas instituições, elaborando um texto, publicando e ficando na expectativa de ganhar “ponto” – objetivo central. Não tem sentido participar de debate (ou organizá-lo) quando não vale “ponto” (quantos docentes da Pós organizaram debates – polêmicos - recentemente que não valem pontos?). Qual a finalidade de um texto? O que eu quero com as minhas palavras? O que pretendo com as imagens que estão circulando nas minhas palavras? Quem concorda comigo ou discorda de mim? O meu texto mexeu com o coletivo humano? Isso não importa, o importante é que eu fiz “ponto” no lattes. O vazio – o Nada – reina nas universidades hoje. Ninguém tem nada a dizer, pois não tem mais o que dizer, já foi dito há muito tempo o que deveria ser dito – o “tempo”, a “história” morreu ( o futuro também não existe, morreu). Temos apenas que “produzir” palavras, no presente momento, pois é o único tempo existente, vazias de sentido, porque o que precisa ser dito, já foi dito há muito tempo e não há mais o que dizer. Nem o que recordar, rememorar, porque o presente é agora, o resultado é agora, você tem que provar agora que você merece a instituição. Passado e futuro não existem no domínio desse fantasma – se existir, apenas, de forma utilitária (o que dá no mesmo, a morte do tempo). Só o presente vale.

Ora, a predominância absoluta do presente leva-nos ao utilitarismo e ao sadismo. Aqueles que querem gozar da onipotência das produções visando ao “resultado” não podem reconhecer o Outro. O Outro é um objeto – literal. É uma peça – é um taylorismo mais sofisticado. Vincent de Gaulejac nos alerta de que Taylor é mais progressista que o mais novo gerencialismo quantitativista. E como peça, troquemo-la quando não mais nos servir. Tudo pelo resultado. Difícil de combater essa concepção porque esse fantasma não tem corpo, não tem matéria (são normas, instrumentos, números, dados estatísticos, resultados). Como diz Enriquez, o grande estrategista tem que ser “cool”, frio, indiferente. Não pode se permitir demonstrar sentimentos “femininos”. O importante é o resultado. Conforme Dejours, que escreveu “A banalização da injustiça social”, não são os "grandes homens” que fazem o mal, mas os medianos das organizações. São esses que demitem, aterrorizam seus subordinados em nome dos resultados e para serem reconhecidos pela organização. Como ele diz: “É em nome dessa justa causa que se utilizam, larga manu, no mundo do trabalho, métodos cruéis contra nossos concidadãos, a fim de excluir os que não estão aptos a combater nessa guerra: estes são demitidos da empresa, ao passo que dos outros, dos que estão aptos ao combate, exigem-se desempenhos sempre superiores em termos de produtividade, de disponibilidade, de disciplina e de abnegação”.

Enriquez defende que nunca o indivíduo esteve preso nas malhas da organização e “tão pouco livre em relação ao seu corpo, ao seu modo de pensar, à sua psique”.[7]

Há docentes na ANPED[8] que gostam de E. Enriquez – mas este autor combate essa política e essa prática nas organizações; alguns gostam de Boaventura Santos – este, também, denuncia e tenta elaborar teoria que seja alternativa à globalização; uns, elogiam a Christophe Dejours; outros admiram e louvam a Paulo Freire, mas este viveu seu pensamento; outros mais se encantam com Almerindo Afonso e Licínio Lima; outros, ainda, com a ação comunicativa de Habermas. Poderíamos ilustrar o que afirmamos com um conjunto de autores que são escarrados (lembro-me de Augusto dos Anjos) em citações nos tão propalados artigos que valem ponto no lattes. Mas são palavras vazias, são palavras “virgens”, “puras”, que não marcam a tinta do papel porque são superficiais. Esses e outros autores, se consultados sobre a prática política e a concepção de ciência e saber no cotidiano daqueles que os citam, certamente, se rebelariam, pois não se veriam nelas. A instituição, por estar morta, e/ou dominada por esse fantasma, ou os autores/os teóricos tornam-se sem sentido, desfigurados, apenas retóricos, porque estão desconectados do real. A pulsão de morte está encravada na instituição universitária.

Dejours chama-nos a atenção de que “se essa maquinaria continua a mostrar seu poderio é porque consentimos em fazê-la funcionar, mesmo quando isso nos repugna. Mesmo quando isso nos repugnar!”. Conforme ele, esse consentimento decorre do “sofrimento no trabalho”.[9] A perda da esperança gradual no trabalho e a consciência de que quanto mais se dão ao trabalho, mais se agrava a situação constroem esse consentimento à injustiça.

O domínio da presentificação do tempo não ataca apenas alguns docentes “improdutivos”, mas os estudantes. Literalmente como objetos – estritamente objetais-, eles sofrem – efetivamente sofrem - toda a política deliberada do Programa. Como coisas - e Karl Marx chamou muito bem a atenção sobre o fetichismo da mercadoria –, os três estudantes são tratados (!?!?) ... Ora, Se são coisas, não são “tratadas”. “Coisas” não têm sentimentos, não pensam, não desejam, portanto não são tratadas, são descartadas, são peças. Coisas são “avaliadas” (ou avariadas?), não precisam ser avaliadores. Agora entendo porque os estudantes não participam do “processo de avaliação” da instituição e dos docentes.[10] Os estudantes, do ponto de vista dessa lógica, não contam. Fico pensando com minha cabeça improdutiva: mas eles são a razão de ser da instituição. Sem estudantes, existiriam as Pós? Hum! Acho que não, pois aqui é uma Universidade. Se é assim, por que eles não são ouvidos no processo? Por que eles não avaliam “qualitativamente” de igual para igual?

Espere aí: mas os estudantes têm espaço na Pós, têm seus representantes, diriam muitos dos docentes. Seu pensamento não está pensando direito. Você está sendo pensado, diriam. Será que têm razão? Acho que não. O Estatuto da UFPE é ainda da ditadura militar: sua concepção, sua forma organizacional e sua composição[11]. Quando do fim do governo dos militares (e dos civis) – mas não do autoritarismo e da hierarquização –, o País estabeleceu a Constituinte: deputados eleitos com finalidade exclusiva de escrever as novas leis. Isso não foi à toa. O luto precisava ser feito. Era necessária uma nova configuração social, política, organizacional etc Não se podia administrar o “novo” com forma do “velho”. Quer dizer que não haveria legitimidade se não se fizesse isso? A Pós tem legitimidade? Acho que não. Ela tem legalidade, o que é bem diferente. A ruptura com esse imaginário social da ordem autoritária é imprescindível – não foi feito o luto na UFPE –– obviamente para quem defende uma sociedade democrática. Quem não a defende se agarrará ao fantasma e fará dele o bastião da qualidade e dos resultados. Então não é em nome da Universidade e da Pós que se faz tanta violência simbólica e efetiva? – certamente, Pierre Bourdieu diria: “Não, de todo!” O Capital simbólico será apropriado por certos indivíduos e grupos e estes sairão fortalecidos do processo – lá em Brasília, na ANPED, sabe-se lá. Mas, e as “mortes” e o sofrimento psíquico? O quê? Não, isso não é importante, o importante é que chegaremos lá. Aonde? Sei lá, chegaremos lá, ao ponto 5. Queremos mais: queremos o ponto 7. Mas, é o máximo, o topo. O preço é muito alto. Quantos não terão que “morrer” para alcançarmos isso? Você sabe, a vida é assim. Há aqueles que são competentes, e outros, o seu oposto. O importante é que chegaremos lá. Nada nos impedirá, pois isso é progresso, é racional, é desenvolvimento, é o correto – não temos saída. A verdade estará conosco. Já ouvi essa história antes, diriam outros. Os que sobreviverem contarão a sua história. Isso é História – afirma categoricamente o fantasma. E aqueles que ficam esperneando? Bem, temos que afastá-los; ora, eles esperneiam porque não são produtivos.

Essa obsessão por resultados para sermos simplesmente reconhecidos por Brasília é um absurdo – do ponto de vista do bom senso e do racional. As Pós não fazem discussões profundas sobre a formação dos estudantes – do ponto de vista da formação intelectual, da “qualidade” das disciplinas - em nosso caso, do papel e importância da Pós para Pernambuco (e para o Nordeste) -, inexistem reflexões e projetos institucionais com o Nordeste, pensando o Nordeste-, e, agora, pensando a América Latina (o ALAS abriu essa possibilidade); inexiste, também, reflexão da Pós com os governos (municipais, estaduais e federais) – na verdade, a Pós é utilizada como objeto (“coisa”) dos governantes.

Precisamos problematizar, não podemos ficar a reboque da quantofrenia dos governos e empresários. Precisamos colocar nossos conhecimentos a favor do MST e de outras organizações de trabalhadores sem terra, sem teto, sem universidade, etc – mas é preciso vontade política para sentarmos e construirmos coletivamente, junto com todos os estudantes da graduação e das Pós, e com os servidores, um projeto político-social que aponte um compromisso social efetivo. A Pós do governo federal é um órgão público (pelo menos deveria). Ela tem que estar a serviço do nosso Povo. O seu caminho diz respeito não somente a quem faz parte dela, mas dos que estão fora. Acho até que podemos e devemos elaborar projetos, concursos, com a finalidade de discutirmos os graves problemas social-educacionais. Mas como poderemos fazer isso e outras coisas se estamos escravos dos resultados, da mediocridade?

A situação social e política é grave no contexto em que vivemos. Não podemos ser cúmplices e irresponsáveis pelos graves problemas sociais, econômicos, éticos e ideológicos que atravessa a Pátria nesse momento.

Essa carta é uma conclamação aos docentes, estudantes e servidores ao bom senso, ao pensamento aberto, não somente do CE, mas de todos que têm o direito e o dever de se posicionar politicamente sobre as questões das instituições públicas e os graves problemas sociais nacionais e locais. Essas questões da quantofrenia são um problema político, e não técnico (de regras matemáticas de pontuação). Não há como fugir da posição política. Seremos cobrados por isso. Não adianta dizer que a culpa é da CAPES. Não podemos mais nos esconder e adotar a amnésia e a política da avestruz como prática política.

Uma outra Pós-Graduação é possível.

Recife, outubro de 2011

Evson Malaquias de Moraes Santos



[1] Conforme Gaulejac, “a quanttofrenia designa uma patologia que consiste em querer traduzir sistematicamente os fenômenos sociais e humanos em linguagem matemática”. Conferir Gestão como doença social. Idéias e Letras. (p.94)

[2] Por sadismo entendemos aqui o exercício de violência, agressividade, de forma genérica. Cf. Vocabulário da psicanálise Laplanche e Pontalis.

[3] Desculpem-me os quantofrênicos e perversos por divulgar um texto que não será publicado no receituário médico complexo da CAPES (vitaminas B1, B2...).

[4] Conferir Visões da Liberdade de Sidney Chalhoub.

[5] O sentido de policiais, conforme ele, inclue aqui, também, pedagogos, psiquiatras etc

[6] Alguns pesquisadores governistas comparam o PAIUB ao SINAES (que inclui o receituário da CAPES), o que é um absurdo. O SINAES foi imposto, o PAIUB foi iniciativa das próprias universidades. Se um “sistema” de avaliação for criado num espírito de desejo e liberdade pela própria coletividade instituinte, então não é mais “avaliação”, é uma outra coisa. Não chamemos mais de avaliação.

[7] Vida psíquica e organização. O indivíduo preso na armadilha da estrutura estratégica. Orgs. Fernando Motta e Maria E. Freitas. FGV, 2000.

[8] Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação.

[9] A banalização da injustiça social. FGV, 2009.

[10] Apesar de vinte discentes – entre eles, treze da Pós e sete de graduação que fazem pesquisas -, os quantofrênicos não quiseram nem tomar conhecimento das avaliações qualitativas sobre meu papel na formação intelectual e cívica. Esse desprezo espelha a obsessão e a desqualificação prática aos estudantes enquanto produtores de conhecimento e como responsáveis pela existência do próprio Programa. Na verdade, essa postura demonstra que a Pós institui aqueles como crianças, seres infantis que precisam de tuteladas.

[11] Serei criticado por desconsiderar a reforma do regimento em 2008. Alguns, até dirão que eu não participei, não tenho conhecimento para tratar desse assunto. O aglomerado de pessoas não significa que houve ação reflexiva sobre o objeto estudado. Sabemos que as práticas e ações coletivas dos grupos e organizações estão dominadas pelo tempo histórico. O tempo histórico atual não é o da reflexão, da crítica e do pensamento aberto (Castoriadis e Morin). Mas do pensamento “único”: a quantofrenia, a redução da ciência aos índices e indicadores de desempenho. Este é o tempo histórico que, ainda, infelizmente prevalece. Não por muito tempo, espero. Não sou adepto do fim da história.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Insensata opção


Heitor Scalambrini Costa

Professor da Universidade Federal de Pernambuco

Muito se tem falado e escrito pró e contra a opção do governo Lula/Dilma em reativar o Programa Nuclear, implicando assim na instalação de centrais nucleares no território brasileiro.

Os defensores desta tecnologia, identificados com setores da burocracia estatal, militares, membros da academia, grupos empresariais (empreiteiras e construtores de equipamentos), julgam que o Brasil não deve prescindir desta fonte de energia elétrica para atender a demanda futura, alegam ser vantajosa por ser barata e “limpa” por não emitir gases de efeito estufa. Afirmam não ser possível acompanhar o desenvolvimento científico-tecnológico, caso não se construa usinas nucleares. E por outro lado, minimizam o recente desastre ocorrido no complexo de Fukushima Daiichi, garantindo riscos mínimos, e mesmo a ausência deles, nas instalações brasileiras.

A primeira vista tais argumentos pareceria convincente, e poderiam até confundir os mais neófitos e menos desavisados cidadãos e cidadãs, que desejam o melhor para o país e para sua população. Mas a verdade dos fatos tem revelado que a opção pela energia nuclear atende somente a interesses inconfessáveis de alguns, em detrimento dos interesses da ampla maioria, resultando em mais problemas do que soluções.

É preciso entender de uma vez por todas, a grande vantagem comparativa do Brasil por possuir uma diversidade e abundância de fontes energéticas renováveis que não são encontradas em nenhuma parte do mundo, e que podem pela tecnologia atual, atender as necessidades energéticas atuais e futuras do país. Estas sim, desde que utilizadas de forma sustentável, podem contribuir para uma sociedade descarbonizada.

Afirmar que as usinas nucleares não emitem gases de efeito estufa é uma meia verdade. É certo que quando em funcionamento as usinas núcleo elétricas emitem desprezíveis quantidades destes gases. Mas lembremos que as centrais não funcionam sem o combustível nuclear. E este para ser obtido, passa por etapas e operações que são conhecidas como “ciclo do combustível nuclear”, que vão desde a extração do minério radioativo, sua concentração, enriquecimento, preparação das pastilhas de combustível, seu uso na usina na geração de eletricidade, armazenagem do lixo radioativo produzido e o descomissionamento da usina, depois de atender sua vida útil. Em todas estas etapas e operações a produção de gases de efeito estufa é importante, e a quantidade varia muito em função da metodologia empregada para calcular, de 60 a 400 gCO2/kWh, como relatado por inúmeras publicações científicas. Por si só esta grande variação merece explicações e estudos mais conclusivos.

Relacionar a necessidade de instalação de usinas nucleares no país como sendo fundamental e imprescindível para acompanhar o desenvolvimento científico tecnológico na área nuclear é uma justificativa completamente fantasiosa, irreal e agride o bom senso. Ao invés de investir 10 bilhões de reais na construção de uma única usina, com baixo índice de nacionalização de seus componentes, poderia se construir reatores multi-propósito por 1 bilhão de reais cada unidade. Seriam muito mais úteis ao desenvolvimento e a soberania do país.

Minimizar os riscos das instalações nucleares é um atentado a inteligência de qualquer pessoa. Mesmo não divulgados são freqüentes os vazamentos de materiais radioativos e problemas que ocorrem nos 442 usinas nucleares espalhadas em 29 países. Os desastres mais significativos nos últimos 20 anos, de Thernobyl, Three Mille Island e de Fukushima Daiichi, foram suficientes para alertar o mundo de quão é perigosa e dos riscos à vida que oferecem estas instalações.

E finalmente, os custos da energia elétrica produzida pelas usinas nucleares são mais caros que outras fontes, como a eólica e a hidráulica, e comparados ao das termoelétricas. Além de necessitarem de subsídios públicos, ou seja, repasse de enormes recursos financeiros do tesouro nacional disponibilizados para esta tecnologia; que acabam dificultando que investimentos sejam realizados em outras fontes energéticas como a solar, eólica, biomassa, pequenas centrais hidroelétricas, e no aproveitamento dos recursos energéticos encontrados nos oceanos. É certo também que com as novas regras de segurança impostas pós Fukushima, ainda mais caro ficará o custo da eletricidade nuclear.

Uma pergunta que não quer calar, diz respeito à negativa de muitas seguradoras em cobrir os acidentes nucleares, que em muitos países essa cobertura é atribuída ao Governo Federal. Se as companhias de seguro, especialistas em estimar os perigos de acidentes, não desejam arriscar seu dinheiro, por que se devem obrigar as pessoas a arriscarem suas vidas?

No mínimo é insensata esta opção energética adotada pelo governo brasileiro, que deve ser mais discutida com transparência. Daí estar junto à imensa maioria da população que tem se manifestado contrária a construção de usinas nucleares em território nacional, fortalecendo o coro: Energia nuclear? Não obrigado.