terça-feira, 3 de novembro de 2009

Crise econômica e meio ambiente: os caminhos do ecossocialismo

Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco


Vivemos nos últimos anos sob a tacanha do pensamento hegemônico, o do neoliberalismo. Aos governos, na visão neoliberal, cabe criar e preservar certas condições que permitam ao mercado operar. É o capitalismo financeiro determinante dos fluxos de dinheiro, dos lucros obtidos, dos problemas econômicos criados, das crises nos países. O mercado decide, o mercado determina. É a chamada globalização financeira.
Decorrente da atual política neoliberal o mundo só conseguiu produzir menores taxas de crescimento, maior desigualdade social e crises recorrentes, e que culminaram com os graves problemas enfrentados na atualidade: a recessão-depressão econômica, a insegurança energética e alimentar e o aquecimento global. E agora, uma conjuntura de desemprego e ampliação da miséria. Dados da A OIT (Organização Internacional do Trabalho) indicam novos 50 milhões de desempregados em 2009, principalmente mulheres e crianças, o que eleva o número de desempregados para até 340 milhões de pessoas no mundo.
A crise atual, portanto, não é apenas financeira, trata-se de uma crise profunda que põe em cheque a forma de produzir, comercializar e consumir. O modo de ser humano. Uma crise de valores.
Ao longo dos últimos anos os governos adotaram as receitas neoliberais ditadas por organizações dirigidas pelos paises centrais, como a OMC, o Banco Mundial e o FMI, no âmbito dos programas de ajustamento estrutural e de redução da pobreza. Em nome da luta contra a pobreza, estas instituições convenceram os governos a executarem políticas que reproduziram e aumentaram a pobreza.

Os ideólogos do neoliberalismo, da desregulação da economia, do Estado mínimo e do laissez-faire dos mercados mentiram para toda a humanidade, prometendo-lhe o melhor dos mundos. Sem essa via não existiam alternativas, diziam. Tudo isso foi agora desmascarado com a explosão mundial da crise econômica e financeira em 2007-2008, mostrando o quanto interligadas estão as economias do planeta.

Parece-nos absolutamente óbvio que foram as políticas dos paises ricos-G8, impostas aos países do Sul, as responsáveis pelo fracasso na tentativa de reduzir à metade a proporção de famintos no mundo até 2015, em correspondência com as Metas do Milênio. Não podemos deixar de lembrar que são os camponeses/as que representam cerca da metade da população ativa do mundo, é que são os primeiros a serem afetados pela fome e pela desnutrição.

Todavia os paises ricos continuam falhando em não reconhecer o papel dos produtores de alimentos do mundo, os agricultores e agricultoras familiares, e em não definirem estratégias e políticas agrícolas que possam aliviar a crise que atinge as áreas rurais. As políticas atualmente adotadas têm causado efeitos catastróficos na agricultura camponesa, pois liberaliza os mercados agrícolas e privatiza os recursos naturais.

O que se espera como política agrícola é que sejam os povos e os países que definam e protejam seus próprios sistemas agrícolas, sem afetar negativamente os demais. Lutamos é para transformar o modelo agro-exportador no Norte e no Sul, em outro baseado na produção local sustentável, baseado na agricultura familiar.

Sou daqueles que atribui boa parte dos atuais problemas à atividade humana. O que levou nosso planeta a uma situação tal, que poderá (se nada for feito), provocar uma alteração irreversível no clima com conseqüências físicas, econômicas e sociais catastróficas para todos os países foi:

- os atuais processos de produção e consumo orientadores do sistema de desenvolvimento dominante,

- e a idéia de progresso como sinônimo de crescimento econômico.
Todavia há aqueles ainda, que dizem que nunca antes na história da humanidade tantos viveram com tanta fartura, com tanta longevidade, com tanto conforto e com tantas opções para consumo. Dizem ainda, que foi vitorioso o atual modelo econômico iniciado com a Revolução Industrial.

Bem podemos afirmar que em cerca de 200 anos de predominância do capitalismo, o balanço é excelente, se considerarmos a qualidade de vida dos 20% da população mundial que vive nos paises ricos do hemisfério Norte. E os restantes 80%? Excelente também para os bancos e grandes empresas.

Contudo, estes privilegiados são poucos em relação aos mais de 6,5 bilhões de seres humanos que habitam a Terra. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a FAO, mais de 4 bilhões de pessoas vivem hoje abaixo da linha da pobreza com menos de 1 dólar por dia, dos quais 1,3 bilhões de pessoas abaixo da linha da miséria, e 950 milhões sofrem desnutrição crônica. Também, mais de um terço da população urbana mundial mora em favelas.
A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou que a crise econômica mundial piorará ainda mais a situação dos países mais pobres, agravando os problemas da fome, da desnutrição e da pobreza. Segundo dados divulgados pela própria ONU, enquanto os países pobres receberam, em meio século, cerca de US$ 2 bilhões em doações de países ricos, bancos e outras instituições financeiras ganharam, em apenas um ano, US$ 18 bilhões em ajuda pública, ou seja, o setor financeiro internacional recebeu, apenas em 2008, quase dez vezes mais recursos públicos do que todos os países pobres do planeta nos últimos cinqüenta anos.
Logo, o desafio consiste em uma mudança de paradigma, em construir um novo modelo econômico e social a serviço de um novo modelo democrático que traga toda a humanidade a um padrão de vida digno, com acesso à alimentação adequada, a saúde, a educação e oportunidades de trabalho. Visto que, para continuar o crescimento da produção e do consumo atuais, como é proposto pelo modelo vigente, precisaríamos de mais de um planeta Terra, pois hoje já são consumidos recursos naturais a uma taxa 30% maior do que a Terra tem condições de repor.

Aqui reside o limite do capital: o limite da Terra.

No nosso país, a situação não é muito diferente do que ocorre em outros paises. Repete-se, ano após ano, governo após governo a ladainha daqueles que chega ao poder, e que é repetido aos quatro cantos. Que o seu governo é maravilhoso e o de seu antecessor foi o pior do mundo.

É aquele excesso de otimismo habitual de quem esta dentro e acha que faz o máximo tentando passar a sensação de realmente estarem mudando o país. Assim, só é otimista quem precisa, por dever de oficio animar o auditório.

Contrariamente aos que chegaram lá, o povo - desempregados, motoristas, garçons, professores, ..... - constatam que a política econômica é continuista, com o desemprego aumentando, a renda diminuindo e a falta de crescimento. A área social continua não sendo prioritária – ações são baseadas em propaganda e marketing. Enfim, que nada é novo.
No Brasil, caracterizado pela enorme injustiça e desigualdade social, com uma obscena distribuição de renda, a política atual do governo Lula, não diferente dos seus antecessores, mostrou-se ortodoxa, privilegiando a manutenção do “satus quo”. Investe num modelo econômico neoliberal, e é incapaz de perceber a amplitude da crise ecológica, e reforça o modo de produção produtivista colocando, um pouquinho da cor verde sem, de forma alguma, adotar as medidas radicais que se impõem.
No país, constatamos que as reformas ocorridas nos últimos 40 anos foram um fracasso estrondoso, para a ampla população brasileira. Melhoras individuais chegaram a ocorrer. Ainda assim, foram atropeladas e varridas pela expansão impiedosa do sistema e pelo caráter caótico de sua produção.
Após chegar lá, com o discurso da mudança, gerando grandes expectativas e esperanças, tentam passar a idéia de estarem realizando a política do possível, que inclui medidas de sacrifício a todos. Todavia deixaram intocáveis os lucros dos banqueiros, das multinacionais, dos grandes empresários, dos especuladores e dos agiotas.

O governo Lula, sem dúvida, faz parte daquela esquerda social democrata que se adaptou ao capitalismo.

A conjugação das crises (a alimentar, a energética, a recessão/depressão econômica e a ambiental) levou aos impasses que ora vivemos, no mundo e no Brasil em particular, mostrando a necessidade de libertarmos da sociedade capitalista e do seu modelo produtivo consumista.
A ligação entre as crises põe em evidência a necessidade de um programa anti-capitalista e revolucionário em escala planetária, que deve incluir uma dimensão feminista, ecologista, internacionalista e anti-racista. É preciso que estas diferentes dimensões sejam integradas de maneira coerente no que está em jogo no socialismo do século XXI. A humanidade não poderá contentar-se com meias medidas. É preciso arrancar o mal pela raiz.
A direção a ser tomada para encontrar as soluções, deve ser no sentido em que elas sejam favoráveis aos povos e à natureza. O que está em jogo, é a disposição das sociedades em reduzir e alterar drasticamente a forma de consumo, redefinir o modelo de produção e a idéia mesmo de desenvolvimento; e, em passar a medir o êxito de um país por seus indicadores sociais e ambientais, e não mais apenas por sua riqueza financeira.
Às barbaridades do último século – cem anos de guerra, de pilhagem imperialista e de genocídio – o capitalismo acrescentou novos horrores: é totalmente possível que o ar que respiramos e a água que bebemos fiquem permanentemente envenenados e que o aquecimento global torne inabitável grande parte do mundo.
Portanto, o desafio que se coloca neste início do século XXI é nada menos do que mudar o curso da civilização. É preciso construir uma nova ordem internacional, que respeite a soberania dos povos e das nações. Deslocar, num curto espaço de tempo, o eixo da lógica “viver é produzir sem fim e consumir o mais que pode” que leva a acumulação, para uma lógica em função do bem estar social, do exercício da liberdade e da cooperação entre os povos.

Este a meu ver é nosso grande desafio.
A destruição da natureza não é uma característica acidental do capitalismo: está embutida no DNA do sistema. A necessidade insaciável de aumentar os lucros não pode ser eliminada por reformas. Do mesmo modo que uma pessoa não pode sobreviver sem respirar, o capitalismo não pode existir sem o crescimento contínuo.
Sua única medida de crescimento é quanto é vendido a cada dia, a cada semana, a cada ano – incluindo vastas quantidades de produtos que são diretamente nocivos para os seres humanos e para a natureza, mercadorias que não podem ser produzidas sem espalhar doenças, destruir as florestas que produzem o oxigênio que respiramos, devastar os ecossistemas e tratar nossa água e ar como esgotos para a disposição de lixo industrial.
O que se verifica na atualidade é que este mesmo sistema que impõe a crise ambiental também estabeleça os termos deste debate. Pois o capital comanda os meios de produção do conhecimento, tanto como a produção do carbono atmosférico.
Por isso, seus políticos, burocratas, economistas e professores apresentam um infindável número de propostas, todas elas variações sobre o tema de que os danos ecológicos mundiais podem ser reparados sem perturbações no livre mercado e no sistema de acumulação que comanda a economia mundial.
Muitos acreditam que o mercado pode ser o responsável pela implantação de um modelo de desenvolvimento sustentável e que, com o decorrer do tempo e o surgimento de novas tecnologias, os problemas ambientais poderiam ser sanados e superados, resultando em melhorias no bem-estar social ou mesmo na diminuição das desigualdades sociais.
Mas, as desigualdades sociais e o modo de produção atual são os principais obstáculos para atingir uma forma de desenvolvimento capaz de preservar o meio ambiente e, ao mesmo tempo, proporcionar melhores condições de vida aos excluídos. Um modelo sustentável só será possível a partir da mudança dos modos de produção e de consumo da sociedade.
É a lógica capitalista, baseada na acumulação do capital, no consumismo, no militarismo, que está levando o nosso planeta – e os seres vivos que o habitam – a uma situação catastrófica do ponto de vista do meio ambiente, das condições de sobrevivência da vida humana e da vida em geral.
A questão central é: como vamos mudar o sistema de produção? Na medida em que se muda a produção, se mudará o consumo. A produção comanda e obriga o consumo. Se há preocupação em mudar a questão ambiental, tem que se pensar em mudar o sistema de produção, o modelo atual da civilização ocidental e oriental também industrializada, que converte cada indivíduo em consumidor e cada vez mais consumidor de quinquilharias para fazer girar a roda da produção e do lucro: a acumulação de capitais.
Um fato que pode dar uma indicação deste fracasso, de resolver através do mercado as emissões de carbono, foi que nos quatro primeiros anos do século 21, as emissões globais de carbono foram quase três vezes maiores, do que as dos anos 1990, apesar do surgimento do Protocolo de Quioto em 1997.
Os capitalistas não estão sendo obrigados a reduzir suas emissões de carbono, mas, na verdade, estão pagando para fazer isso e, desse modo, são autorizados a usar seu poder sobre o dinheiro para controlar o mercado de carbono para seus próprios fins.
Há quem diga que um pesado imposto será cobrado das gerações futuras. Essa visão aumenta em muito a nossa responsabilidade. É fundamental que outras formas de relação do ser humano com a natureza sejam assumidas e que novas tecnologias, de alta eficiência na utilização de recursos naturais e com mínimos impactos ambientais sejam desenvolvidas e adotadas em larga escala.

Precisamos sim valorizar aspectos relativos às questões que sempre foram colocadas pelo ser humano: que sentido tem a vida e o universo, qual é o nosso lugar? Portanto, há que se ouvir mais os pensadores e os que ainda amam a vida e cuidam da Terra, do que os governos, os economistas, entre outros.
Somente uma mudança profunda na própria natureza da civilização pode salvar a humanidade das conseqüências catastróficas da mudança climática. É preciso deter e reverter esse processo desastroso, lutando para impor todo limite possível ao ecocídio capitalista, e para criar uma mobilização internacional que possa substituir o capitalismo por uma sociedade em que a propriedade comum dos meios de produção substitua a propriedade capitalista e em que a preservação e a restauração dos ecossistemas sejam uma parte fundamental de toda atividade humana.
Do ponto de vista do eco-socialismo devemos fazer uma critica tanto da ‘ecologia pelo mercado’, que não desafia o capitalismo, como do ‘socialismo produtivista’, que ignora os limites naturais da Terra.
Devemos caminhar para uma nova sociedade, baseada na racionalidade ecológica, no controle democrático, na igualdade social e na predominância do valor-de-uso sobre o valor-de-troca. A possibilidade de construir uma proposta mais radical que leve ao fim do capitalismo, implica em profundas mobilizações sociais para recolocar em pauta um verdadeiro processo revolucionário.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A PROPÓSITO DE UMA REPRESENTAÇÃO

Jarbas Souza Prof. Aposentado da UFPE

Convidado para fazer parte do Conselho da ADUFEPE como representante dos professores aposentados da UFPE, fiquei pensativo, diante do convite para uma tarefa de grande responsabilidade. Existiam poucos candidatos interessados, e para não deixar uma lacuna importante para a nossa classe de professores, aceitei.

A partir daí começaram minhas preocupações em razão de assumir a representação dos aposentados que em muitos casos foram esquecidos pela instituição na qual passou anos se dedicando, com o sacrifício da família em detrimento do acumulo de atividades as quais se envolvera.

Representar esses professores aposentados no Conselho de Representantes da ADUFEPE, os quais julgo eméritos, pela dedicação que tiveram com o ensino, sobretudo na graduação, um dos tripés da UFPE - ENSINO PESQUISA E EXTENSAO - é sem duvida uma grande honra, que rogo ao espírito cósmico, luz suficiente para iluminar minha consciência, nessa caminhada pela defesa dos interesses desses cavalheiros que contribuíram para a consolidação desta universidade, que hoje goza de grande conceito na sociedade brasileira. A nossa legitimidade está ancorada na idéia de que as decisões no âmbito da entidade professoral devem ser tomadas na medida em que a organização representativa exerça um papel fundamentalmente em defesa dos direitos de seus representados.

Na visão desse entendimento, prevalecem o principio da legalidade representativa, dentro dos limites, constitucional, com compromissos éticos e com a determinada pauta e prática de política honrosa. O que se observa muitas vezes é o distanciamento dos representantes da sua base, que passam a atuar em causas próprias. Importante ressaltar aqui que um representante deve ter compromissos políticos e éticos com a comunidade. A representação é um princípio democrático, e por essa razão autônoma, assim os conselheiros, para exercerem o papel de controle social, devem ter autonomia e coerência com o segmento que o escolheu.

Consequência disso: a representação não é do professor, mas de um segmento, isso significa que o representante não pode agir sozinho, ele está naquele espaço, escolhido por seus pares para representá-lo. Sendo o Conselheiro representante de um grupo ou classe, deve, portanto, ter o legitimo compromisso ético de representar à altura dos representados, a quem deve explicações de seus atos.

Dentro dessa visão, a Representação é uma via de duas mãos. De um lado o coletivo de um determinado grupo ou categoria, que precisa discutir mobilizar e, de outro, o representante outorgado que deve fomentar o debate e defender as propostas concernentes do segmento que o outorgou para aquelas funções. Certamente ao refletir sobre os anseios dos docentes, indiretamente estamos pensando em uma educação libertadora comprometida com a independência dos concidadãos que através dos impostos, custeiam essa universidade, de onde sai as maiores pesquisas de interesse social, juntamente com os estudantes, principal razão de ser desta universidade.

Hoje, muitos dos professores aposentados, orgulhosamente se sentem felizes ao verem no cenário nacional, internacional ou mesmo dentro da instituição que ajudou para seu fortalecimento, ex-alunos se destacando, cumprindo assim o dever cívico responsável, se posicionando corretamente como profissional ético, aplicando os conhecimentos por eles transmitidos em salas de aula.

Se nada no contexto da humanidade é mais importante do que a família, nas instituições, e em particular nossa universidade, nada é mais importante do que o coletivo, nesse caso sem menosprezo de outros, os docentes, que como tal se constituem uma das famílias da UFPE.

Essa representação professoral, que começa no momento em que os docentes assumem o papel de educador e formador de opinião, com a outorga da constitucionalidade e da credibilidade social, depositado em suas mãos, fica clara a responsabilidade e o compromisso de preparar os futuros profissionais para o exercício ético das diversas profissões, mas, sobretudo o de preparar o homem enquanto homem em seu caminhar de historicidade, Ser em constante dinamismo de verdade, justiça e amor, segundo os preceitos humanísticos e constitucionais, de uma democracia plural. Sem dúvida, o não compromisso com o homem pelo homem e para o homem, tornar-mos-ia estéreis de valores morais e desumanos, o que vem acontecendo em nossos dias de globalização. Urge, portanto, que resgatemos os valores, procurando extrair de cada um o que há de mais belo, possibilitando-o contribuir honestamente para as transformações sociais, dentro dos ditames das leis.

Na afirmação de Antoine de Saint-Exupéry - “todo deserto é belo porque esconde um Oasis” - transferindo para os seres humanos, o entendimento, é possível buscar a paz que se encontra em cada um, através do bom senso e da reta razão, pelo diálogo, que deve nortear nossas ações enquanto homens. Entendo também, que no contexto da educaçãoSócrates, “A arte de despertar as virtudes da alma”, tais como humildade, na generosidade, na honestidade, na tolerância, a benevolência, etc. - a função primordial de um professor é proporcionar o desabrochar da beleza de cada um de seus alunos para que possam exalando o seu melhor aroma, contribuir para um mundo melhor, sem ódio, sem diferenças sociais, sem conflitos ideológicos que geram guerras, e os constantes desequilíbrios dos ecossistemas contribuindo para devastação, ameaçando de extinção a vida do nosso planeta.

Representar os Docentes Aposentados, tarefa, aliás, difícil como já manifestei de inicio, significa cobrar dos responsáveis pelas decisões que vêem de encontro da dignidade professoral, possam em primeiro lugar, reconhecer nesses docentes seus valores meritórios de quem tudo deu pela instituição e pelo seu país, mas, sobretudo condições dignas para poderem continuar servindo a nação, como exemplo de honradez por tantos anos de dedicação, ensinando não só as ferramentas profissionais, mas a retidão humana para o exercício da cidadania e da democracia.

O exercício da cidadania passa também, nesse momento critico de falta de valores morais por parte de muitos representantes do povo, pela comunidade universitária, e ai vou mais além, – professores, técnicos, servidores de apoio e estudantes – desenvolvendo ações, fora do perímetro do Campus da UFPE, para devolver um pouco do muito que nos foi dado pela sociedade que contribui para nossa permanência nesse, espaço de excelência cientifica, procurando mostrar à importância da Universidade como instituição publica de ensino de qualidade na formação de profissionais que irão gerenciar no futuro a nação.

Conscientizar a sociedade, - de uma crise existencial sem precedentes, em todos os campos de sua atividade : política, econômica, cientifica, tecnológica,religiosa, moral, artística, etc. - que em sua maioria desconhece a importância da UFPE, como formadora de bons profissionais de qualidade moral e ética, e o quanto ao longo dos anos ela foi perdendo recursos em razão da pouca vontade política dos representantes outorgados pelo povo, não estarem convencidos ou não querem investir em educação, por acreditarem que assim o fazendo, haverá menos desinformado, comprometendo o discurso demagógico dos corruptos que nada fazem pelo povo, enganando-os com sofismas.

Conselhos são entes que não substituem os órgãos de governo. São estruturas colegiadas. Seus alicerces são conceitos de Democracia e participação:

- São prerrogativas dos Conselheiros, socializar as informações e os debates das propostas e estratégias que venham ao encontro dos anseios e direitos de quem o escolheu ou indicou para a função.

- É vital a divulgação do que se passa nos conselhos para a comunidade controlar, afinal, representantes e gestores são outorgados e pagos pelo povo.

É fundamental a participação de conselheiros nos espaços de articulação próprios da UFPE e da sociedade civil, como os Fóruns para fortalecimento da representação e aumento da pressão política da sociedade acadêmica e civil.

O grande desafio é construir nova agenda para os conselhos de docentes, com maior legitimidade acadêmica e consolidação democrática. Os mesmos têm um importante papel a desempenhar no controle da gestão pública e na democratização das relações que se estabelecem entre a UFPE, Estado e a sociedade em geral.

Portanto, finalizando o tema, a propósito de uma representação vejo-me envolvido, numa questão de doutrina política, que envolvendo o ser humano, já traduz uma complexidade indo alem dos limites da razão, para entrarmos nos limites do sentimento. Daí a importância da educação nos três níveis do conhecimento, com o fim primordial de lapidar o que foi entrevisto, para que cada um se torne o que deve ser. Ser de compreensão dos valores humanos, calcados nos princípios mais sagrados da vida, – a liberdade, justiça e dignidade – construídas sob a luz do amor.

Assim, considerando a educação como o principio maior das transformações, é, pois, obviamente, a única fonte libertadora dos instintos mais primitivos dos homens. Nesse contexto, somos responsáveis por todos que por ventura passaram e passarão por nossas orientações, tendo como norte a reta razão de ser, para que nossa pátria possa servir de espelho para outras nações, orgulho de nossos concidadãos.

O grande desafio do século XXI é conseguir encontrar um novo paradigma e estabelecer uma estratégia para reformular o ensino nos três níveis, contemplando valores, tendo como ponto primordial o humanismo solidário, ético e moral, objetivando a renovação do atual quadro representativo nacional. Essa é uma esperança que não poderemos deixar morrer, sob pena de sermos condenados por nossos próprios descendentes.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O Brasil (Nordeste) não precisa de usinas nucleares

Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco

Segundo previsão do Plano Nacional de Energia 2030 – PNE 20030 (Estratégia para a Expansão da Oferta), divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética –EPE, o Brasil deverá construir mais quatro usinas nucleares até 2030, duas das novas unidades nucleares com potência de aproximadamente 1 milhão de kW cada poderão ser construídas na região Nordeste e as outras duas no Sudeste. Além de Angra 3, que já está incluída no Plano Decenal de Expansão de Energia Elétrica (PDEE) 2006-2015.

Paralisadas há 20 anos, as obras da usina nuclear de Angra 3 (1,35 milhão de kW) foram retomadas. É estimado para agosto de 2013 a entrada de operação da terceira usina termonuclear brasileira, com investimentos da ordem de R$ 7 bilhões.

A elaboração destes planos de expansão da oferta energética sofre de um erro de origem: a ausência da sociedade no debate da questão energética, e sua efetiva participação no processo decisório. A ampliação do espaço de debate é fundamental para tornar politicamente sustentável o processo de decisão. O debate energético não pode permanecer confinado nas mesas e gabinetes de “experts”, hábeis na manipulação de números e de conceitos, buscando na epistemologia das ciências a legitimação das decisões que afetam toda a sociedade.

O Brasil não tem necessidade de construir mais usinas nucleares para aumentar a oferta de energia elétrica. Estas decisões referentes à construção de usinas de geração de eletricidade têm sido apresentadas diante de um suposto aumento dos riscos de déficit de energia, alimentadas pela síndrome do apagão. Fonte de energia elétrica ambientalmente danosa por causa dos riscos de acidentes e pela produção de resíduos radioativos, também chamados de lixo atômico; o uso da nucleoeletricidade pelo Brasil é estrategicamente incorreto, e deveria ser definitivamente descartado. Parece-me mais inteligente buscar formas de aumentar a eficiência e a conservação de energia, e de encontrar na diversidade das fontes renováveis as múltiplas saídas para os problemas energéticos do país.

O Brasil tem hoje aproximadamente 70 usinas hidrelétricas com mais de 20 anos de construção, que poderiam sofrer uma repotenciação (troca de equipamentos, por ex. substituição do rotor do gerador, ou modernização de componentes e sistemas). Se isso fosse feito, proporcionaria a mais, cerca de 8.000 megawatts. O custo é bem menor comparado à construção de novas usinas. Uma economia de aproximadamente 4.850 megawatts poderia ser obtida sem nenhuma nova obra civil, bastando que se investisse na redução das perdas do setor elétrico nacional, que hoje, desde a transmissão até chegar ao domicílio ou ao consumidor industrial, são da ordem de 15%. Se houvesse um esforço para que o desperdício fosse reduzido para 10%, isso já seria suficiente para essa economia. Outra possibilidade concreta de reduzir a necessidade de construção de novas centrais elétricas seria a substituição do chuveiro elétrico por sistemas de aquecimento solar. Conforme levantamentos, cerca de 8% do consumo nacional de energia elétrica é usado no aquecimento de água para banho. Essa substituição representaria uma economia importante, visto que o sistema energético brasileiro tem atualmente cerca de 100 mil megawatts de potência instalada.

Lamentavelmente a opção nuclear é a opção preferencial, em detrimento da busca pela eficiência energética e adoção de matrizes energéticas renováveis.Constata-se assim, que o governo não dá muita importância à adoção de novas matrizes de energia renovável no país, revelando pouco apreço pela busca da eficiência energética, do uso racional e de novas fontes de energia. As energias renováveis são relegadas no PDEE, enquanto deveriam ser encaradas como a grande solução para a questão energética. Embarcar no caminho da energia nuclear traz controvérsias, é polêmico, tem um custo muito elevado e destoa do rumo que seria mais interessante para o Brasil.

Não faltam opções técnicas para a segurança energética de médio e longo prazo. O Brasil, já é capaz de produzir em quantidade energia solar térmica (aquecimento de água), solar fotovoltaica (eletricidade solar), eólica e bioeletricidade (produzida a partir da queima de resíduos agrícolas ou outro material orgânico), entre outras, e só não o faz por falta de promoção dessas tecnologias. Para isso deveria fornecer subsídios (prêmios e linhas de crédito), aplicar medidas de apoio (como campanhas públicas e educação ambiental), dar incentivos fiscais (tanto para quem fabrica os equipamentos, como para o usuário) criar legislação para a obrigatoriedade de instalações, ou de preparação para a instalação dos equipamentos.

O governo segue desconsiderando a tendência internacional de incentivar e apoiar as fontes renováveis de energia, apesar do país possuir potencial para suprir totalmente a demanda nacional atual, e também para fornecer eletricidade a locais remotos que não a possuem ou que utilizam outras fontes como a geração a diesel ou a gás. Ao desprezar as fontes renováveis, o país acaba deixando de economizar energia, e de contribuir na diminuição das emissões de gases de efeito estufa.Como podemos observar, a temática da oferta da energia traz questões de ordem política decorrente da forma como as diferentes opções energéticas são impostas a sociedade. O tratamento da questão energética em nosso país continua a revelar a prevalência da visão liberal-mercantilista, que concebe o setor energético como um campo de relações de troca de mercadorias.