quarta-feira, 16 de março de 2011

Democracia na UFPE

Heitor Scalambrini Costa
Professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco

A democracia é uma idéia antiga e uma experiência nova para a humanidade. Constituem marcos e conquistas na construção da democracia e na formação da cidadania as revoluções: Inglesa (1640), Americana (1776), Francesa (1789); a constituição dos estados Unidas da América (1787); e a Declaração Universal dos Direitos do Homem proclamada pela Assembléia Geral das Nações Unidas (1948).

Na raiz de todos estes eventos, está à luta pela liberdade contra a opressão, cuja existência se manifesta no exercício do poder, qualquer que seja a natureza da relação social. As vitimas dessa opressão são sempre as mesmas: os mais fracos. E a razão é a mesma: o abuso do poder.

Após a ditadura militar de 1964 que suprimiu do povo brasileira a democracia, esta foi conquistada com a democratização, nos anos ’80.

Na Universidade não foi diferente, e a democratização da estrutura universitária foi uma reivindicação que unificou as forças progressistas dos três segmentos que a compõem (professores, técnico-administrativos e estudantes), contra o entulho autoritário da ditadura.

A supressão da democracia foi uma agressão deprimente para o ambiente acadêmico, onde a liberdade do pensar e a pluralidade de idéias e ideais devem sempre prevalecer. De lá para cá, apesar dos avanços, ainda temos retrocessos que precisam ser superados.

Uma das reivindicações, ainda presente na Universidade Brasileira é a da autonomia universitária (definida na constituição federal de 1988, no artigo 207 – “As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial e obedecerão ao principio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”) e da participação paritária da comunidade, nos órgãos decisórios em todos os níveis, dos departamentos aos órgãos superiores. Uma forma de compartilhamento do poder.

Quando falamos na autonomia universitária – incluindo a financeira – entendemos que ela não é uma via de democratização, mas a condição prévia para consegui-la. Não é um fim em si, é um meio que pode ou não, ter eficiência para que as universidades cumpram seu papel na sociedade. Em suma, um regime de autonomia universitária significa que o governo não meta as mãos na Universidade, como ocorre hoje.

A dotação orçamentária global é um importante passo para a autonomia da gestão financeira e patrimonial das Instituições de Ensino Superior, e só terá resultados positivos se for garantido o financiamento pelo Estado e a plena participação da comunidade universitária na elaboração, fiscalização e execução do orçamento. A autonomia para a universidade significa também autonomia didático-científica.

Como propugna a constituição federal, a autonomia só tem sentido se obedecer ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, e estiver aliada ao processo de democratização interna. Autonomia plena, publicidade dos atos administrativos e representação paritária são as pré-condições da democracia universitária. Ela porém, não deve confinar-se ao campus; e de nada valerá se a autonomia e liberdade sindical, ampla liberdade de pensamento e expressão, não a complementarem.

Hoje, o que é profundamente antidemocrático, é a existência do segredo no meio universitário: por exemplo, na elaboração do orçamento, que depende mais do Ministério de Planejamento que o da Educação. Por outro lado, uma democracia sem prestação de contas, onde tudo é oculto, não é democracia. Neste caso há o perigo das organizações estudantis, de técnicos administrativos e de docentes incorporarem-se ao sistema, praticando uma das suas regras básicas: decisões tomadas pela cúpula.

Outro aspecto a ser evidenciado diz respeito às condições de trabalho no âmbito das instituições de ensino superior, que vêm se modificando tanto nos últimos anos. Até meados da década de 1980, o desenvolvimento da pesquisa acadêmica não era gerido por prazos rígidos pré-fixados e a obrigação de publicar resultados. Muitas vezes a sala de aula era o principal laboratório docente, uma oficina artesanal onde a formação de novos profissionais não era um objetivo secundário.

Hoje à atividade docente esta submetida e obedecer a critérios de produtivismo, que foram sendo impostos, fazendo com que o docente se ocupe cada vez menos com o ensino, pesquisa e extensão, e se dedique a tarefas burocráticas. Não é levado em conta que o trabalho intelectual possui um caráter artesanal que lhe é intrínseco, e sem o qual é completamente descaracterizado, e que não pode ser submetido a critérios e métodos de avaliação de produção industrial. Antes, nós éramos pagos para pensar. Agora, somos pagos para produzir.

Percebe-se claramente que, grande parte dos docentes não estão satisfeitos com os critérios e métodos da Capes e do CNPq. Estão aturdidos, infelizes, e não vêem saídas.

São estas questões preliminares que embasam uma discussão sobre a realidade atual da UFPE.

Na UFPE em 2002, o Programa de Campanha da chapa oposicionista composta pelos professores Amaro Lins e Gilson Edmar, “Pela Mudança da UFPE: Democracia, Qualidade e Compromisso Social” propunha mudanças estruturais, e apontava para mais autonomia. No preâmbulo deste documento estava explicitado que aquela eleição, era entre a escolha da “manutenção do controle centralizado da instituição ou a democratização efetiva da UFPE: torná-la transparente, participativa e revigorada pela legitimidade”. O documento ainda dizia “no momento do voto, será este o desafio: optar pela continuidade ou ser artífice do novo”.

Com relação a um dos eixos norteadores desta memorável eleição, o da esperada democratização da UFPE, estava escrito ainda no Programa da chapa “a democratização se materializa numa gestão descentralizada, transparente e participativa”. Na visão daqueles que acabaram se elegendo era dito “democratização pressupõe o fortalecimento do poder de decisão e de gestão dos órgãos colegiados e das câmaras setoriais”, e mais “as mudanças não serão alcançadas apenas com a gestão democrática na reitoria, pois requerem um novo ordenamento institucional. Nossa chapa afirma, portanto o compromisso com uma reforma do Estatuto e dos Regimentos da Universidade, a ser elaborada e legitimada pela ampla participação da comunidade. Propomos uma redefinição da composição e das atribuições dos órgãos deliberativos universitários, e, em particular, eleição direta dos membros do Conselho Universitário pela comunidade e por representantes da sociedade, a fim de que seu poder decisório seja ampliado e legitimado”.

Esta e outras promessas de campanha NÃO foram cumpridas, conforme se constata agora no início deste oitavo ano de reitorado. As regras (direitos e deveres) contidas no Estatuto da Universidade não foram modificadas. O atual estatuto permanece ativo, e é um instrumento envelhecido e retrógrado, com mais de 40 anos de idade, tempo suficiente para se elencar grandes transformações, avanços e retrocessos sociais ocorridos no país e nas universidades brasileiras. O que é exigido nos tempos atuais é algo mais ágil, mais ajustado, mais moderno a época, e que possibilite mais democracia nas relações entre a comunidade universitária. O poder continua centralizado na figura do Reitor.

Portanto é preciso que a comunidade universitária avance no diálogo democrático para superar os entraves autoritários que vão desde as práticas pedagógicas mutiladoras do conhecimento dos estudantes, até as atitudes burocráticas com finalidades em si mesmas. Exortamos a luta pela democratização real e não de fachada de nossa Universidade, fundada na mais ampla liberdade de pensamento de professores, técnicos e estudantes, que não devem e não podem ser beneficiados ou prejudicados por razões ideológicas. O princípio de autoridade na Universidade deve fundar-se no saber e na capacidade de aglutinar; o que ultrapasse isso é autoritarismo grosseiro.

Hoje se verifica, infelizmente, que a defesa da democracia não consegue mobilizar todas as tendências políticas representadas no interior de nossa Universidade, o que demonstra que algo esta errado com elas. A UFPE precisa democratizar, e hoje em dia não bastam palavras e pensamento positivo. Ajudam muito, mas apenas quando somado à coerência e à ação.

Lamentavelmente nesses anos da gestão Amaro/Gilson a democratização na UFPE não se materializou, pois esta gestão não promoveu o que havia prometido: a descentralização, a transparência e a participação plena da comunidade universitária nas decisões e destinos de nossa Universidade.

No dia 26 de abril teremos eleições para reitor e será uma nova oportunidade para escolher dirigentes que promovam as mudanças e as transformações esperadas por toda a comunidade. E que seu novo reitor eleito inicie um processo estatuinte de composição paritária, democrática e soberana, com prazo determinado para estabelecer um novo estatuto, em conformidade aos grandes desafios deste inicio de século XXI.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Eleição para reitor e o direito a crítica

Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco

No fundo, todo mundo gosta mesmo é de elogios. Todavia no ambiente
acadêmico em particular, a critica é fundamental e é intrínseca ao meio, e
quando não existe é porque alguma coisa esta errada. A crítica instiga à
reflexão e pode conduzir ao aprimoramento pessoal e coletivo.

Uma dos aprendizados mais importantes na formação do individuo envolve a
capacidade de lidar com a crítica e com as opiniões diferentes de forma
saudável e construtiva. Ainda assim, a crítica nunca é agradável e nem
oferece conforto emocional a quem se destina.

Nesse contexto, não chega a ser surpreendente que exista a tentação de
controlar e silenciar as opiniões críticas, principalmente pelos que se
valem do poder do cargo que ocupa. Consta-se que a história está cheia de
exemplos. No nosso país sob regime militar, regras eram impostas pelo
Estado que proibiam opiniões ou que obrigavam a concordar com outras
opiniões.

Como parece inviável erradicar essa tentação da experiência humana, é
preciso, ao menos, controlá-la. Conviver com a crítica, que a liberdade de
expressão exige, impõe o exercício de virtudes importantes para a
democracia. Suportar a crítica é uma forma de manifestar igual respeito e
consideração com o outro, é esta é a condição necessária para o ambiente
acadêmico.

No caso da Universidade são as regras explicitadas no Estatuto que define
os direitos e os deveres da comunidade universitária. Não pode ser o
dirigente máximo da instituição, o reitor, o árbitro que classifica as
idéias em boas e más. Idéias, não se combatem com penalidades, mas com
outras idéias. E a liberdade de expressão, por evidente, existe para
proteger as idéias críticas: o elogio não precisa de proteção.

Na UFPE estamos submetidos a um Estatuto retrógrado, ultrapassado, da
década de 60 do século passado, cuja comunidade formada pelos estudantes,
técnico-administrativos e professores, é tolhida, em sua plenitude a
participar da instituição. Ai está o desafio da construção de um projeto
para a Universidade, colocar a crítica comprometida com as transformações
sociais e científicas de forma mais ampla e profunda. Um compromisso que
passa pela democratização das estruturas de poder da Universidade, em
especial do Conselho Universitário, atualmente estruturado de forma
antidemocrática. Nele não há uma representação real dos estudantes,
técnicos administrativos e professores, não há eleições para a maioria dos
cargos de conselheiro.

E daí a importância de elegermos para próximo reitor, alguém que tenha um
claro posicionamento sobre a necessidade urgente de se compartilhar o
poder. O reitorado que termina no próximo ano NÃO CUMPRIU com as promessas
feitas, a de promover uma mudança nos estatutos. Foi promessa de campanha
da primeira gestão e da segunda gestão.

Daí, esperamos que na eleição para reitor que acontecerá no próximo
semestre de 2011, tenhamos a oportunidade para discutirmos as diferenças
de idéias entre os candidatos e os compromissos com a democratização da
UFPE. Os que estiveram administrando a Universidade perderam esta
oportunidade. Agora que dêem lugar para uma NOVA UFPE, para uma UFPE VIVA.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

DISCURSO PROFERIDO NA COLAÇÃO DE GRAU DOS CURSOS DE HISTÓRIA, GEOGRAFIA, FILOSOFIA, CIÊNCIAS SOCIAIS, PSICOLOGIA DO CFCH DA UFPE TURMAS 2009.2

Magnífico Reitor, Prof. Amaro Lins
Diretora do CFCH, Profa. Socorro Ferraz
Vice-Diretora do CFCH, Profa. Lucinda Macedo
Srs e Sras. Chefes de Departamento e Coordenadores de Curso de graduação do CFCH
Srs e Sras. Patronos, Professores Paraninfos e homenageados das turmas dos cursos de graduação do CFCH
Prezados estudantes concluintes das turmas dos cursos de graduação do CFCH
Srs país, parentes e convidados
Minhas senhoras, meus senhores

Foi com grande alegria que recebi da Turma de concluintes do curso de História, 2009.2, esta homenagem que, de pronto, compartilho com todos os colegas docentes que atuaram para a formação daqueles/as a quem o Magnífico Reitor confere, hoje, o grau de licenciado/a e de bacharel em História pela UFPE.

No bem composto comunicado da homenagem que me foi concedida, encontrei grafada a sugestiva expressão: Tempus fugit. Para uma turma de concluintes de um curso de História, a escolha foi muito feliz. Estudiosos do tempo que são, estudantes que se preparam para servir a sociedade como historiadores ou professores de história aprendem, desde cedo, a render homenagem ao “deus” tempo, e tendo de conhecer as diversas problemáticas que envolvem os acontecimentos históricos, defrontarem-se com o debate e os desafios da construção dos conhecimentos historicamente acumulados sobre o tempo. Aprendem assim que, junto ao seu par, o espaço, o tempo é um conceito estruturante dessa área do conhecimento humano e nos permite situar o fazer histórico, constituindo-se em um dos seus marcos fundamentais. Aprendem, ainda, que o tempo não é uno, nem linear. O tempo é múltiplo e comporta simultaneidades. Compreendem então que, para além do tempo histórico, há tempos a mã cheia para muitos gostos, significados e sentidos. O tempo alude a uma realidade material, mas comporta também uma dimensão simbólica que homens e mulheres criam. Enquanto uma criação humana, há o tempo cósmico que se conta por anos-luz, há o tempo geológico que se mede por milhões de anos e há também o tempo histórico que se afere por séculos, décadas e datas. O tempo que se conta, que se mede, que se afere é o tempo cronológico, essa fantástica criação do mundo da quantificação do real que possibilitou satisfazer nosso desejo, nunca satisfeito, de tentar exercer o controle sobre a realidade que nos concerne por meio da fabricação de referências que atendem pelos nomes de anos-luz, milênio, século, ano, dia, hora, minuto, segundo....,

A contrapelo do rigor de uma métrica que a tecnologia e ciência refinam a cada momento, falamos também em tempo da existência, tempo da alegria, tempo da dor. Noções que aludem a experiências muito distintas e de distintos significados. Costumamos dizer que um fato que nos causa dor tende a ser sentido como de maior duração que um que cause alegria. O significado subverte o rigor da métrica e irrompe soberano, dizendo-nos que o tempo medido, por vezes, de nada vale diante do tempo sentido. Tempo que se mede e tempo que se sente. Tempo que se quer controlar e tempo rebelde que não se submete. Tempo que foge, tempo que escapa. Tempus fugit. Aí talvez esteja o significado da expressão latina que nomeia a turma que me homenageia. A expressão aludiria, portanto, à relação do homem, da mulher com o tempo, podendo significar que, sendo um dado humano, é expressão de uma experiência singular, de modo que, só vagamente, exercemos controle sobre o tempo, porque tempo é humanamente soberano.

Mas, afinal, que tempo é esse que vivemos? Permitam-me falar de como o vejo, falar do que ele descortina, do que ele comporta. Para isso, quero dizer logo do lugar que falo. Falo como um professor que há 32 anos, completados no próximo primeiro de abril, contribui para formar professores nesta universidade. Falo, portanto, do lugar social de uma instituição de referência para o sistema de educação superior e, em especial, para a formação de profissionais para o magistério da educação básica, com todas as responsabilidades que essa condição inspira. E não são poucas...

Permitam-me debulhar a narrativa.

Depois de anos bicudos, anos que o dramaturgo Bertolt Brecht chamaria de um “tempo sem sol”, as universidades públicas federais entraram nesta última quadra da primeira década dos anos 2000 num tempo de esperança. Passaram a conhecer um processo de expansão e reestruturação tão importante quanto aquele infeliz e tristemente imposto no final dos anos 60 do século passado. Dentro de alguns anos, o efeito distanciamento nos permitirá perceber a grandeza do que foi feito e vem sendo feito pela educação superior pública nos anos que correm. Criam-se campus, cursos, currículos novos. Expandem-se cursos já existentes e atualizam-se percursos formativos de modo a torná-los mais afeitos aos desafios da contemporaneidade. Abrem-se oportunidades para segmentos sociais, regiões e localidades antes excluídos do direito social básico da educação de qualidade. Desenvolvem-se talentos pelas mãos de docentes e técnico-administrativos, todos servidores públicos de IES federais, deixando à mostra a capacidade que tem o Estado, quando há vontade política, para responder, com qualidade social, às necessidades da sociedade e aos ditames da inclusão. Não seria demasiado dizer que as recentes medidas de políticas educacionais relativas à educação superior pública contrastam com o equívoco histórico e político praticado por forças sociais, tristes e mesquinhas forças sociais, que sistemática e didaticamente afirmaram, por mais duas décadas, a necessidade de diminuição do tamanho do Estado e a demonização dos servidores públicos, cantando a plenos pulmões e aos sete ventos as excelências do sacro santo Mercado. Erigido como paradigma da nova ordem social, esses tempos de desconstrução do Estado do Bem Estar Social e de hegemonia do indivíduo, da selvagem competição e da supremacia dos ditos mais capazes legaram, de um lado, o desapreço pelo trabalho produtivo em favor da acumulação de capital financeiro, obtida em jogatinas realizadas através de papéis que trafegam nas infoways das Tecnologias da Informação e Comunicação. Legaram, por outro lado, a dor, o sofrimento, a fome, o analfabetismo e o crescimento da Aids no continente africano. Quem semeia ventos antisolidários colhe Desesperança.

A mais recente crise mundial revelou o tamanho do equívoco, mas também a esperteza dessas mesmas forças sociais neoliberais que dirigiam o planeta quando ele quase capotou. A saída de emergência tomada foi chamar de volta o Estado, reivindicando, de pronto, o desembolso de gordas somas da poupança nacional. Doce ironia: os aiatolás do Mercado curvaram-se ao Santo Estado e, ante a sua ação estabilizadora, passaram a dizer amém! Doce ironia, estratégica ironia!

O Brasil, que já chamara o Estado de volta alguns anos antes, pode navegar em águas tão turbulentas de forma mais segura e parece fazer a travessia de modo menos traumático.

O novo impulso dado às IFES surge nesse contexto, num contexto de retomada do papel do Estado brasileiro na formulação de políticas sociais. A expansão e reestruturação de que falamos antes é um capítulo da retomada da capacidade do Estado brasileiro de realizar investimentos sociais que venham a atender às demandas da sociedade. Tais ações explicariam o novo horizonte que se coloca para nossas instituições universitárias federais e o clima de esperança que toma conta de um bom número de docentes, técnico-administrativos e estudantes. Estamos em um novo tempo e isto não pode ser visto como mero exercício de retórica, mas narrativa de coisa feita e se fazendo.

Depois de duas décadas de desesperança, abrem-se portas e janelas, descortinam-se caminhos novos, frutos de tanta luta, de tanto suor, de tanto pensar, de tanta ação solidária.

O esforço feito até aqui é, porém, insuficiente para o tamanho do desafio que temos que enfrentar para incluir jovens no ensino superior. Os últimos levantamentos apontam que o atendimento por IES a brasileiros entre 17 e 25 anos não passa de meros 13,9%. Muito longe, portanto, do que pretendeu realizar o Plano Nacional de Educação, aprovado em 2001, que apontou como meta ampliar o atendimento até alcançar a 30% dessa mesma faixa etária. Tal realidade só faz confirmar a tese sustentada por diversos cientistas sociais que afirmam o quanto as estruturas desse país são capazes de produzir injustiça, desigualdade e exclusão.

Triste realidade, desafiante realidade. Tamanho desafio fez com que as IFES, reunidas em fevereiro deste ano, aprovassem proposição para o novo PNE, discutida na CONAE 2010, no final do mês de março, de um atendimento de até 40%, com a duplicação dos atuais investimentos públicos na Educação Superior.

E por ser desafiante e esperançosa, essa meta repõe sobre a mesa a temática do tempo com a qual abri a oração nessa noite.

Em horas assim, serve-nos o poeta, esse porta voz da alma humana, esse ser capaz de dizer melhor que muitos sobre a pergunta que não quer calar: que tempo é esse?

Escolho um polêmico poeta baiano, para dizer com ele:

És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo

Acordado então está!
Muito obrigado.


Prof. José Batista Neto
Diretor do Centro de Educação/UFPE